Arcturus em São Paulo
Publicada em 27, Feb, 2018 por Fabiano Cruz
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Ir a uma apresentação de uma banda do lado mais extremo do Heavy Metal que em suas composições incorporam elementos progressivos é sempre uma surpresa; as apresentações são carregadas de improvisos e imprevistos musicais que sempre deixam os fãs abismados e sem reação. Com o Arcturus não seria diferente. A banda retornou a São Paulo pouco menos de dois anos de sua estréia em solo brasileiro, e mesmo ainda em turnê do disco Arcturian, a banda tomou o cuidado de nos brindar com um set completamente diferente - o que o lado surpresa para muitos se tornou ainda mais forte.
O palco foi a casa Fabrique, que em tempos de escassos lugares para shows de pequeno porte, vem se destacando e sendo um excelente lugar: o teto alto facilita e potencializa o som ao vivo, o lugar tem uma excelente visibilidade e o público é muito bem atendido, desde a segurança ao bar; porém mesmo o Arcturus ser uma das melhores bandas do estilo e o Fabrique ser um local de fácil acesso, o público foi pequeno, porém participativo - pela quantidade, não poderia ter curiosos ou afins, somente fãs mesmo.
Mas a banda não se intimou. Em meio de uma iluminação escura calcada em tons como vermelho e azul escuro, a banda inicia com Kinect e Nightmare Heaven, mostrando um ambiente que condiz com o visual: um som soturno e místico que, aliás, tudo muito bem pensado, com imagens psicodélicas e as vestimentas iguais a arte do ultimo trabalho. Crashland, Paint My Horror e Alone seguiram o set, tocadas sem muitas pausas no meio.
Difícil descrever a banda em palco. São músicos acima da média, mas sem exibicionismo: é o jogo das notas para a música em si, e não para mostrar o músico. Composições complexas foram tocadas minuciosamente iguais às gravações, tudo maestramente regido pelo tecladista Sverd. Collapse Generation, The Arcturian Sign e The Chaos Path mostraram muito bem essas qualidades da banda, algo que particularmente ficava sem reação - o show do Arcturus não é para agitar ou ficar papeando, é um show que prende a atenção e que qualquer desvio de foco perdemos detalhes mínimos.
Detalhes esses que são presentes nas performances avassaladoras de ICS Vortex na voz e Hellhammer na bateria, dois grandes conhecidos do público extremo do Heavy pelas bandas Borknagar e Mayhem. Vortex é além de um simples vocalista, ele interpreta não somente com a voz, mas com o corpo e gestos os inúmeros personagens e filosofias que contém nas letras; a já citada Paint My Horror e Hibernation Sickness Complete chegaram a ser hipnotizante seus movimentos aliados aos timbres transmutados a cada estrofe cantada. Hellhammer é um mostro na bateria; com uma regulagem e timbragem perfeita que poucas vezes eu escutei de uma bateria em um show, toca com maestria complexos arranjos e passagens que as canções pedem, tudo sem soar mecânico ou forçado.
A banda passeia por toda sua discografia, desde Game Over do ultimo trabalho até Fall of Man do primeiro disco, sendo essa um lado mais folk e tradicional que se encaixa perfeitamente ao lado mais experimental da banda. O baixo de Skoll e a guitarra de Mollarn seguem o lado complexo dos arranjos e ambos têm seus momentos de destaque aqui e ali, muitas vezes segurando harmonias e tempos incomuns ao estilo para que Hellhammer e Sverd extrapolassem os limites.
Um tanto visivelmente cansado, Vortex anuncia as ultimas canções, To Thou Who Dwellest in the Night e Angst, terminando uma apresentação que fez eu demorar a retornar a um estado lúcido. Claro, houve pontos negativos: o som da banda começou um tanto abafado que foi sendo resolvido conforme o tempo - mas quando arrumado o som ficou cristalino e limpo, um puta trabalho da mesa de som! -; em alguns momentos o uso excessivo de gelo seco atrapalhou um pouco a visão do palco para quem estava mais atrás na pista. Mas nada atrapalhou a uma hora e vinte de pura viagem musical, onde valeu cada minuto presenciado!
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