Modernidade e tradição da MPB: Ana Cañas e Guilherme Arantes no HSBC
Publicada em 16, Feb, 2014 por Marcia Janini
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Com início por volta das 22h00, a cantora paulistana Ana Cañas sobe ao palco. Encantando o público com seu timbre de voz aveludado e seu forte carisma, inicia a apresentação com "Urubu Rei", canção que traduz esparsos elementos de sonoridades próximas à mediterrânea, em solfejos e vocalizes profundos, na fusão com o pop rock. A letra, repleta de figuras de linguagem e abolição de rimas pobres sugere certo simbolismo.
Performática, Ana declama poesia precedendo a introdução de "Será Que Você Me Ama?", balada romântica, suave, pautada na cadência do blues. A deliciosa canção de melodia simples e letra complexa ganha colorido todo especial com a delicada voz da intérprete, em interessantes recursos vocais como divisão silábica nada óbvia e trinados, traduzindo à canção aura de sutil sensualidade.
A ensolarada e reggaeira "Difícil" surge divertida, em fraseado vocal inspirado, numa demonstração do grande potencial vocal da intérprete, passeando em variações dinâmicas profundas. Nota para o excelente trabalho da percussão nesta melodia, que empresta aos atabaques a sonoridade tropical, remetendo ao merengue.
Nota para a inspirada releitura de "Codinome Beija-Flor", clássico de Cazuza, num dos momentos mais introspectivos e singelos do espetáculo.
Interpretando música popular latina, brilha na execução de "No Quiero Tus Besos", um belo bolero em impactante performance, repleta de inspiração. Nota para a participação magistral da sanfona, permeando com grande propriedade a canção.
"Rock N' Roll" de Led Zeppelin também surge numa ousada e criativa versão, na contagiante cadência latina da rumba na fusão com o hard rock determinada pela guitarra distorcida em escala ascendente e pelo violão de aço conduzido por Ana em acordes solapados, numa grata surpresa à apresentação.
A inédita e biográfica "Traidor" traduz na melodia o andamento do country, com suaves elementos de soft rock... A divertida e descontraída letra, tendo por mote o rompimento amoroso, traduz urgência e suave tom de desafio, num paradoxo à energia e vibração alegre e contagiante da melodia.
Edith Piaf é lembrada na inspirada interpretação à capella de "La Vie en Rose" em mais uma grata surpresa à seu show... Fantástico e mágico instante onde a versatilidade desta grande intérprete pode ser apreciada em toda sua extensão.
A passional "Escândalo" surge em toda sua languidez e urgência, em mais uma grande interpretação de Ana Cañas para a canção de Ângela Rô Rô.
Pautada na deliciosa cadência do country, traduz aura de inocência na introdução em acordes tão suaves e delicados que remetem às cantigas de ninar... Em uma explosão de energia, num crescendo vertiginoso, a linda "Pra Você Guardei o Amor" assinada por Nando Reis, marca também um belo momento do espetáculo.
A rumbeira e insinuante "Te Ver Feliz", descontraída e bela, denota nos breaks estratégicos de apoio ao refrão mais importantes demonstrações da técnica vocal de Cañas, em preciosos vocalizes e variações em métrica. Perfeita!
"Blues da Piedade", grande sucesso de Cazuza também ganha versão inovadora e arrojada. Grande momento do show!
Explorando na irreverente melodia de "Diabo" a junção do blues com elementos de hard rock e reggae, o encerramento de sua participação nesta noite não poderia ter sido mais perfeita!
Às 23h15, Guilherme Arantes sobe ao palco com "Coisas do Brasil", grande hit da carreira.
Com aparato cênico simples, composto apenas de ciclorama exibindo antiga imagem fotográfica do centro de São Paulo e privilegiado esquema de iluminação, a apresentação, desde seu início, demonstrou grande cuidado estético em mais um show da turnê em comemoração aos quarenta anos de carreira de Guilherme.
Em versão fidedigna à original "Amanhã" marca mais um ponto alto da apresentação. Digna de menção a participação elegante e precisa da guitarra distorcida em acordes altos, emoldurando a suavidade do teclado.
"Moldura do Quadro Roubado", também surge numa aura saudosista, de grandes sucessos que marcaram época, ainda tão presentes na memória de todos.
"Cruzeiro do Sul", em mais um bom momento do show, igualmente interpretado em versão similar à original, denota suave ar de descontração na apresentação.
Simpático, o cantor, a cada canção executada, interage com o público contando um pouco da história envolvendo a criação de cada composição, numa perfeita sinergia palco/platéia.
"Brincar de Viver", sucesso também na voz de Maria Bethânia, marca um dos momentos de maior participação do público.
Canções como "Pedacinhos" e "Meu Mundo e Nada Mais" igualmente marcaram momentos especiais da apresentação, com maciça participação do público.
Esta apresentação, pautada na suavidade e elegância marca também o retorno da carreira de Guilherme Arantes, que lançará em breve álbum de seus clássicos em duetos com alguns dos maiores intérpretes nacionais.
Em dueto com Ana Cañas, Guilherme Arantes surge realizando o suave acompanhamento instrumental por meio do teclado, em um momento pautado pela extrema técnica e beleza estética.
"Canção da América", imortalizada por Elis Regina, surge majestosa na delicada releitura de Ana, numa inspirada e emocionante interpretação. Dividindo os vocais no refrão, Guilherme dá um colorido todo especial à melodia, aliando seu belo e aveludado timbre vocal à encorpada voz de Cañas, em um momento de rara beleza.
Introduzindo o hit "Um Dia Um Adeus", com grande propriedade, o clássico "Califórnia Dreaming" de "The Mamas and The Papas" também surge como mais uma linda surpresa carinhosamente preparada pelo artista em homenagem a seu público, no ponto máximo desta grande apresentação, onde todas as fases de sua carreira são contempladas pelos grandes sucessos, em retrospectiva histórica.
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