Retrospectiva do rock nacional 80`S: Irreverência e protesto
Publicada em 25, Jul, 2011 por Marcia Janini
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Na última sexta-feira, 22 de julho, o Citibank Hall recebeu duas das bandas ícones do rock nacional: Ultraje a Rigor e Biquíni Cavadão.
As apresentações tiveram início por volta das 22h30, para um público estimado em 3,5 mil pessoas.
Abrindo a noite, que trouxe no repertório todos os grandes sucessos da carreira, o Ultraje de Roger e companhia esbanjou talento, competência e irreverência, numa apresentação divertida do início ao fim, com tônica determinada pela total descontração, letras críticas de acento cômico e estilo próprio de mesclar ao peso do rock variados gêneros musicais, numa brasilidade ‘malandra’ que tornou-se marca da banda desde sua formação, permanecendo atual até hoje.
Assim, sucessos como “Zoraide”, “Ah, Se Eu Fosse Homem…”, “Inútil”, “Independente Futebol Clube”, “Rebelde Sem Causa”, “Eu Me Amo”, “Maximillian Sheldon”, “Sexo!”, “Pelado”, “Nada a Declarar”, “Chiclete” e “Nós Vamos Invadir Sua Praia” fizeram a alegria do público presente.
O show revelou ainda algumas gratas surpresas, como o cover do cláasico de Ramones “Sheena is a Punk Rocker” e pontos altos de verticalização, como a execução de “Mim Quer Tocar”, apresentando inspirado solo de guitarra e assinalando a fusão com o blues nesta extended version.
Também digna de menção a performance do baterista Bacalhau em “Filha de Puta”, “Maximillian Sheldon” e “Ciúme”(com furtiva participação do guitarrista Marcos Kleine), numa demonstração inspirada de todo seu talento e versatilidade na condução precisa, técnica e personalizada para o instrumento.
Em mais um excelente momento do show, o segundo vocalista Ricardo Júnior interpreta o clássico do rockabilly “Long Tall Sally” de Little Richard, num bem pontuado cover.
Para o momento do bis, a banda reservou mais inusitadas performances, principiando pela jam session das guitarras de Roger e Kleine, na cadência contagiante do blues, numa verdadeiro show à parte…
A jam introduz com perfeição a versão alternativa de “Marylou”, que principia no andamento dolente do reggae, ascendendo para o “carnarock” que a consagrou como uma das mais inusitadas e criativas canções do rock nacional.
Na sequência, o convidado especial Patrick Maia dá uma canja em um solo de gaita arrebatador, na cadência do blues, traduzindo charmoso ar retrô à apresentação, com esparsos acordes do country.
Encerrando o show, mais um bem executado e fidedigno cover surge na interpretação de “Rock das Aranhas” de Raul Seixas, seguido pelo hit “Terceiro”.
Subindo ao palco aproximadamente à 00h40 de sábado, o Biquíni Cavadão apresenta várias novidades neste show, onde interpreta variadas canções do último trabalho “80 Vol. 2 – Ao Vivo no Circo Voador”, além de inéditas que constarão do próximo álbum com previsão de lançamento ainda este ano.
Assim, os grandes clássicos da banda surgem em versões atualizadas, com mudanças de andamento e cadência, apresentando acordes inovadores e modernizantes, sem entretanto, desvirtuar-se do charmoso toque nostálgico.
“Tédio” surge com belos teclados e exímio trio de metais formado pelo sax tenor preciso de Walmer Carvalho, trompete e trombone, num belo contraponto à bateria pautada no andamento do pop rock.
Na deliciosa cadência do reggae, “Dani” apresenta esparsos synths modernizantes, extraídos de sonoridades eletrônicas, em performance bem pauatada pelo excelente Miguel Flores, responsável também pelos teclados.
“É Dia” traduz ar festivo ao discorrer sobre temática futebolística na bem humorada letra, aliada à contagiante cadência do ska.
O grande sucesso “Impossível” surge em versão muito próxima à original, apresentando entretanto maior vitalidade nos recursos adotados pela bateria, determinando maior peso no andamento hard rock e nas guitarras rascantes. Os acordes suaves do sax tenor traduzem charme extra à esta bela versão.
Na cadência do hardcore, “Em Algum Lugar no Tempo” apresenta bateria cadenciada e teclados esparsos, em um momento de suavidade na apresentação, explorando a temática romântica da letra com grande propriedade, assinalando a nova versão para “Múmias”, surgindo em andamento lento, suavizado pelo teclado em esparsas e doces notas, denotando verve próxima ao black, trazendo elementos de vertentes como o soul, hip hop e charm na finalização.
Apresentando as versões constantes do último trabalho da banda, gravadas em espetáculo realizado no Circo Voador RJ, que realiza revival do rock nacional dos anos 80, estes momentos do show aliam-se à tecnologia, emprestando um ar ainda mais moderno à apresentação, trazendo a participação especial dos intérpretes convidados previamente gravadas e exibidas no telão de fundo do palco.
“Envelheço na Cidade”, da banda paulistana Ira!, surge com a participação de Egypcio (Tihuana), numa versão modernizada pela adoção de sintetizadores, entretanto, bem próxima à original. “Exagerado”, clássico do Barão Vermelho, é interpretada em versão quase fidedigna à original, assim como “Astronauta de Mármore”, representando o rock gaúcho de Nenhum de Nós, que trouxe introdução complexa, longa e densa.
Em mais um inusitado momento do espetáculo, Bruno Gouveia realiza bela interpretação para o clássico da new wave “Tainted Love”, hit mundial do Soft Cell de Marc Almond, próximo à finalização, vocais guturais numa brincadeira do intérprete denotam as influências da dark wave, vertente musical também muito em voga na época.
Em parceria com Lucas Silveira (Fresno) na composição, Bruno Gouveia divide com este os vocais da linda balada “Acordar Para Sempre Com Você”, canção atual de trabalho, com expressiva veiculação nas principais rádios do país. A canção apresenta belos teclados em suspensão e letra introspectiva.
Super descontraída, “No Mundo da Lua” apresenta a sensualidade e irreverência do ska, com a participação especial de Cláudia na segunda voz. Momento de grande diversão, com forte participação do público.
Além destas canções, os grandes sucessos da carreira como “Vento Ventania”, “Timidez”, “Zé Ninguém” e “Chove Chuva” (regravação para a canção de Jorge Ben Jor no ínicio dos anos 90), o show apresentou ainda cover de “Overkill” (Men at Work), e versões novas para Índios (Legião Urbana) com a participação de Tico Santa Cruz (Detonautas Roque Clube) e Romance Ideal (Paralamas do Sucesso) com a participação de Cláudia Leitte.
Importante ressaltar a importância de participações de intérpretes da nova geração do rock nacional e também de outros estilos, de forma que se perceba a relevância que o rock 80 denota na cena musical brasileira, influenciando o trabalho de variados músicos, permanecendo mais que tudo atual em sua attitude trangressora, rompendo paradigmas sonoros ao longo do tempo.
Assim transcorreu a retrospectiva noite, em clima de festa, contabilizando quase quatro horas de muito rock e descontração. The best!
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