Maroon 5 em Fortaleza
Publicada em 16, Mar, 2016 por Daniel Tavares
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Na noite de segunda-feira, quando passei de carro em frente ao Marina Park Hotel, em Fortaleza, não pude deixar de ficar impressionado com o que vi. Embora o enorme palco estivesse dentro do hotel, bastava passar um pouco mais devagar para notar a gigantesca estrutura. E em suas laterais, dois enormes telões exibiam um desenho animado que, mesmo vistos da avenida, impressionavam pela nitidez extrema. Aquela era a véspera do show das bandas americanas MAROON 5 e DASHBOARD CONFESSIONAL. E no dia seguinte, fomos ao evento para contar tudo aos leitores do Musicão. Se você está em São Paulo ou Rio de Janeiro, próximas paradas do MAROON 5, este texto pode até ter alguns spoilers do show, mas, com certeza, devem aumentar a ansiedade para ver o quinteto, sexteto, septeto californiano.
<strong>DASHBOARD CONFESSIONAL</strong>
As primeiras notícias que nos chegaram na terça-feira, 15, é que logo no início da manhã já haviam fãs na fila, ávidos para pegar um lugar o mais próximo possível de onde se apresentariam Adam Levine e seus amigos, embora já tivesse sido anunciado previamente que os portões só abririam às 17h. E conforme o programado, às 19h começou o primeiro show, da banda DASHBOARD CONFESSIONAL, formada por John Lefler (guitarra), Mike Marsh (bateria), Scott Schoenbeck (baixo) e pelo simpático Chris Carrabba no violão e voz. Carrabba (que subiu ao palco carregando uma enorme mochila nas costas) já chega falando um "Oi, como vai", em português mesmo, e mandando "Don´t Wait". A reação do público, que ainda não lotava todo o espaço do frontstage (apesar do setor ter ingressos esgotados há meses) era adversa. Uma parte, formada realmente por fãs da banda balançava as mãos ao ritmo da música, enquanto outros tantos não acompanhava nem o ô ô ô ô. Havia ainda muitos espaços vazios no Marina Park. O público que mais tarde tomaria conta completamente do Marina Park talvez estivesse ainda preso no trânsito de fim de terça-feira. E havia muita conversa.
Alheio a todo esse, talvez, desinteresse de parte da plateia, Carrabba e os músicos que o acompanhavam faziam um bom show, cantando com bastante vigor, com o vocalista até rodopiando ao redor de si mesmo, apesar do tom emocional de suas canções. A saber, o DASHBOARD CONFESSIONAL é um dos precursores do movimento Emo e influenciou muitas bandas que o seguiram no estilo. O quarteto tocou alguns de seus sucessos, como "The Sharp Hint of New Tears" e "Saints and Sailors", além de canções mais novas, como "Get Me Right", do já não tão recente "Alter The Ending". "Esta canção é nova e vocês cantam bonito. Estamos felizes de agradecer ao MAROON 5 por nos trazer", declarou Chris, que ainda pronunciou mais algumas palavras num português difícil de entender, mas que valeu pela intenção. O show ainda teve a bela "Screaming Infidelities", que terminou com a parte final de "Fix You", do COLDPLAY e "Stolen" (quando, mais uma vez demonstrando simpatia, Carrabba perguntou como se fala "durma bem" para cantar em português parte da letra) e "Vindicated", da trilha sonora do filme Homem-Aranha 2. Na última canção (e maior sucesso do DASHBOARD CONFESSIONAL), "Hands Down", Chris chegou a interromper a execução para perguntar se alguém na plateia estava bem. Educado, atencioso, empolgado, o vocalista e seus fãs mereciam um show próprio, em uma casa pequena. E houve mesmo quem reclamasse nas redes sociais da banda que eles só haviam sido anunciados como banda de abertura do MAROON 5 no Brasil quando todos os ingressos (ou a maior parte dos setores) já estivessem esgotados. Resta torcer por um retorno da banda para que todos os que realmente queiram vê-los possam fazê-lo.
<strong>MAROON 5</strong>
21h. Nem um minuto a mais, nem um minuto a menos. A gritaria ensurdecedora competia com os uivos de Adam Levine, ilustrados por três andares (!) de floresta desenhados com lasers nas telas de fundo de palco. Os telões, imensos, que tinham permanecido desligados no show anterior, não deixavam dúvida: o momento esperado por todas as pessoas (de Fortaleza e muitas cidades vizinhas) ali tinha chegado. O MAROON 5 (ou MAROON 7, já que eram sete músicos no palco) estava no Ceará para mais um show da turnê "M5 On The Road", ainda divulgando o seu quinto álbum, simplesmente "V". Como em todos os shows da turnê, já era sabido que não haveriam novidades no setlist. Assim como na Fiergs (na capital gaucha), em Belo Horizonte, no Parque de Exposições de Salvador (show também promovido pela cearense Arte Produções), o show de Adam Levine (vocal), Jesse Carmichael (teclados e guitarra), Mickey Madden (baixo), James Valentine (guitarra), Matt Flynn (bateria), PJ Morton (teclados) e do músico contratado Sam Farrar (guitarra e percussão) começou com a elétrica "Animals", que foi emendada ao reggae "One More Night". Um batalhão de celulares procurava registrar qualquer movimento dos músicos, principalmente do frontman. Houve até quem se arriscasse a subir nos coqueiros do Marina Park.
Que me perdoe algum eventual fã do GYM CLASS HEROES, mas a versão de "Stereo Hearts" pelo MAROON 5 ficou bem melhor que a original (da qual Adam também participa). E "Harder To Breathe", numa versão acelerada e roqueira deixou até o vocalista sem fôlego. E sem voz. E apesar da tentativa de fazer aqui um trocadilho barato, isto é a pura verdade. O vocalista percorre o palco de um lado pro outro várias vezes, abusa dos falsetes, impressiona (bastante) com a maioria deles, mas demonstra algum cansaço na voz. E esta primeira parte do show foi bem direta, quase sem pausa entre uma música e outra, num verdadeiro clima de balada. E se eu disse que foi uma versão mais roqueira que nos discos, não podia faltar um solo de guitarra. E foi exatamente o que James providenciou. Matt, por sua vez, mostra ao vivo muita personalidade, conferindo à música do Maroon 5 uma energia orgânica que foge do minimalismo do pop.
James Valentine voltou a mostrar habilidade como shredder em "Lucky Strike". Adam até poderia descansar a voz, mas preferiu reger o coro da multidão. O suor no rosto (Fortaleza não brinca) fazia com que o vocalista realmente parecesse estar exorcizando a dor de uma traição em "Wake Up Call". E mais uma vez James brilha com um solo de guitarra antes de, finalmente, um segundo de pausa.
"Os melhores fãs em todo o mundo. Nós os amamos muito. Esta próxima canção é dedicada a todos vocês", declarou Adam na primeira vez que se dirigiu diretamente ao público. Mais que as muitas fileiras de canhões de luz, além dos telões, as telas no palco e dois conjuntos laterias de telas ajudavam a construir a emoção passada pelas canções, como "Love Somebody", que tem um dos clipes mais inventivos feitos ultimamente. Já "Maps" começa meio new-wave até explodir num êxtase pop.
Adam anuncia que a próxima canção é do primeiro álbum e convida todo mundo pra cantar. Convite aceito, só Adam, Matt e trinta mil vozes dão início a "This Love" a capella. O resto da banda, com baixo com distorção, guitarra funkeada e teclados assume, mas o coro de trinta mil continua. No fim, Adam e James fazem uma bela disputa. Sim, o jurado do "The Voice" também toca guitarra. Em seguida, o vocalista comanda o coro de Iê Iê Iê e o público se encanta até com uma simples risada de seu ídolo. Adam e James voltam a duelar, mas agora cada qual em seu próprio instrumento. Levine também aproveita para apresentar toda a banda até chegar em PJ Morton, que inicia o jazz "Sunday Morning".
Em um momento bem bonito do show, a banda quase inteira (com exceção de Matt) vem à frente do palco e, abraçados, alguns de olhos fechados (demonstrando acreditar em sua música), começam "Payphone". Felizes para sempre existe? Sim, pelo menos para os fãs do MAROON 5 naquele momento, enquanto cantavam também a canção em coro. E se James parecia que iria arrematar "Daylight" com outro belo solo, Adam surpreende na guitarra mais uma vez (ei, pera, estamos mesmo falando de uma banda pop ou de uma assumidamente rocker?).
Depois de tantos momentos catárticos, uma pausa era necessária. Apagam-se as luzes e quando o palco volta a ficar iluminado, apenas Adam e James (no violão) voltam para um dos momentos mais emocionais do show, quando tocam "Lost Stars", canção que está na trilha sonora do filme "Mesmo Se Nada Der Certo", em que Adam se aventura como ator atuando ao lado de Keyra Knighley. A propósito, este repórter também já se aventurou como crítico da sétima arte. Leia minha resenha deste filme no link abaixo.
http://screamyell.com.br/site/2014/09/29/filme-mesmo-se-nada-der-certo/
A dupla continua por boa parte da próxima canção, "She Will Be Loved", um dos maiores hits do M5. Com o show encaminhando-se para o final, o frontman tira a camisa e o maior grito da noite se faz ouvir (o público feminino e uma certa parte do masculino vai a loucura vendo todos os riscos do vocalista) enquanto a banda toca o hit meio disco "Moves Like Jagger". Por fim, "Suggar", com Adam solando em sua guitarra rosa, põe o ponto final na festa. Alguns fãs ainda fizeram flashmobs durante o show, com balões verde-amarelos ou plaquinhas com "Yes, Please".
Quem foi ver a maior banda pop da atualidade certamente saiu satisfeito. Mas quem não esperava tantos solos de guitarra (por James e Adam), uma bateria tocada tão energicamente (a produção dos discos parece abafar o som da bateria de Matt, enquanto ao vivo ele é sensacional), saiu de lá além de satisfeito, bastante surpreso. Se a musica acaso não impressionasse, a mega-estrutura deixava mandíbulas espalhadas no chão. O número de profissionais envolvidos em um evento deste porte também é notável (segundo a produção, 400 seguranças particulares, 60 brigadistas, 39 médicos, enfermeiros e auxiliares, além do staff das produtoras Arte Produções e Time For Fun e 70 policiais militares e 44 agentes do Detran). Mas é no palco que o MAROON 5 mostra que, mesmo tendo abraçado diversas influências ao longo dos anos (rock, pop, jazz, soul, funk, r&b e até reggae), mesmo tendo se tornado monstros de sucesso e síntese do pop, mesmo tendo aumentado no número de integrantes e no cachê, ainda são aqueles mesmos jovens do KARA´S FLOWERS: uns moleques, agora já crescidos, com uma vontade danada de tocar.
Nem tudo foi alegria no entanto. Apesar de todas as ações em favor do transporte público ainda há muito que Fortaleza precise fazer para garantir que o público de um grande evento como esses deixe os carros em casa e opte por utilizar táxis, moto-táxis e ônibus. A maioria das pessoas que fez essa opção pagou caro, muito caro por isso. Outro ponto negativo foi a atitude de algumas pessoas na área reservada aos portadores de deficiência. Nesse quesito, a produtora fez tudo certo: separou uma área no frontstage (não chegava a ser tão próxima do palco, mas era elevada) e providenciou cadeiras para que os acompanhantes pudessem assistir sentados ao lado daqueles que acompanhavam. Essas pessoas, entretanto, preferiram ficar em pé, transformando a área em uma espécie de camarote improvisado, uma clara falta de respeito com quem estava logo atrás, na pista. A cidade e alguns de seus habitantes precisam e podem melhorar.
Agradecimentos:
Arte Produções, em especial a Thamyres Heros e Jéssica Malheiros, pela atenção e credenciamento.
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