Erasmo Carlos: Uma Viagem Por 50 Anos da Mais Bela Fama de Mal
Publicada em 01, Mar, 2016 por Mumu Silva
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Consagrado como um dos maiores ícones da música brasileira, o roqueiro incansável, cantor e compositor, Erasmo Carlos, se apresentou com o seu espetáculo, Gigante Gentil no Teatro J. Safra, no sábado (27/02) em São Paulo. O Tremendão, cheio de vigor e simpatia, mostrou ao público paulistano um repertório repleto de clássicos, amor, rock and roll e muita história para contar sobre sua conhecida e aclamada fama de mal.
Casaco de couro, jeans, bota e muitas pulseiras, esse era o traje do veterano roqueiro que subiu no palco cheio de presença para um público também veterano e ansioso pelo espetáculo de um dos percursores do rock and roll brasileiro.
Sentado em um banco no centro do palco o músico iniciou o show ao som da belíssima, “Gente Aberta”, que tem em seus primeiros versos os dizeres: "Eu não quero mais conversa Com quem não tem amor, gente certa é gente aberta, se o amor me chamar eu vou". Ela foi tocada deliciosamente ao som do violão de Erasmo Carlos, o mesmo que aprendeu a tocar com a lenda, Tim Maia, seu amigo de infância.
O show seguia uma lógica muito interessante, a cada duas músicas a banda parava e Erasmo contava uma história que contextualizada às músicas seguintes. Quem leu sua biografia, “Minha Fama de Mal”, de 2009, sabe que boas histórias é o que não faltam para ele ao longo de uma intensa carreira de 50 anos de estrada e gravações.
A primeira parte do show é toda feita no formato “banquinho e violão”, mesmo com o acompanhamento da banda o clima era bem romântico e introspectivo ao som de músicas como: “A Carta”, “Dois Animais”, “É Preciso Dar um Jeito”, “Paralelas”, Maria Joana” e “Sementes do Amanhã”.
Em ordem cronológica as histórias sobre a ditatura, a censura, os carrões, as garotas, sua fase hippie e o nascimento de sua primeira filha, iam confortavelmente se entrelaçando até que o músico se levanta e diz: “Agora vocês podem sair para beber água e ir ao banheiro, mas por favor, não vão embora”. E foi dessa forma que a primeira parte do show chegou ao fim.
O retorno foi com a interessante visão sobre o que é a vida virtual para um homem de 74 anos de idade com a música “Gigante Gentil”, do excelente álbum homônimo.
Agora em pé, com a guitarra na mão, o músico mostrou a que veio: muito rock and roll, distorção e uma simpática dancinha, que em tempos áureos da juventude com certeza conquistou muitas cocótinhas.
Dado momento ele se lembra de um encontro com músicos do Rolling Stones e fica fazendo piadas dizendo que era melhor ficarmos quietos para tentar ouvir o show dos britânicos que tocavam na mesma hora no Estádio do Morumbi.
Diz também que muitos fãs ficam tristes com os Stones, pois eles não tocam a clássica “Satisfaction” em muitos shows, mas que ele jamais faria isso com seus fãs, e foi a partir daí que o show atingiu o seu ápice com os clássicos: “É Preciso Saber Viver”, “Quero Que Tudo Vá Para o Inferno”, “Fama de Mal”, “Vem Quente Que Eu Estou Fervendo” e para finalizar a aula de rock and roll, “É Proibido Fumar”.
Erasmo Carlos finge que vai embora, acena a despedida para o público, mas começa então um teatrinho com os membros da banda e seu ‘roadie’, que ficam tentando impedir a saída do músico e pedindo para a plateia gritar “bis”, desta forma o veterano roqueiro não deixaria o palco. Todos no clima do vergonhoso e ingênuo teatro gritavam bem alto: “Erasmo! Erasmo! Erasmo! ”.
Funcionou! Ele volta se dizendo feliz por ser mimado por um amável público durante 50 anos e que toda criança mimada, como ele, faz o que quer, mas que ele jamais decepcionaria quem o ama com tanto afinco por tanto tempo, então ao som da animadíssima “Festa de Arromba” o show termina em êxtase, euforia pura, e dessa vez ele se despede e realmente vai embora.
Um senhor simpático, carioca, roqueiro e criativo, que nunca teve medo de ousar em sua sonoridade viajando com maestria pela MPB, Rock And Roll, Samba e muito mais, sempre respeitando tudo e a todos conseguiu a alcunha de “Gigante Gentil”, que pegou entre os seus íntimos, mas para o resto do Brasil ele é o Tremendão, homem altivo e beijoqueiro, como ele mesmo se declara, mas que hoje é um simpático vovô que todos nós queríamos ter no almoço de domingo em nossas casas, seja na mesa da cozinha, nas conversas no sofá da sala, ou mesmo bem alto na vitrola, pois jamais esqueceremos da sua aclamada Fama de Mal.
Vida longa ao mestre Erasmo Carlos!
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