Sónar Festival 2015
Publicada em 03, Dec, 2015 por Fabiano Cruz
São Paulo mais uma vez foi palco, depois de um ano sem, do festival Sónar, evento multi facetado que apresenta Arte e Tecnologia em sua programação. Bem aclamado no mundo todo, depois de um evento que teve como principal nome os alemães do Kraftwerk, a edição de 2015 teve muitos porém em iniciativas estranhas ao público. Começando pelos locais, distribuídos em alguns pontos da cidade, sendo o principal o Espaço das Américas onde teve os shows; em sua penúltima edição, o Anhembi foi palco do evento, onde ficou tudo centralizado: o público ia do show a feira tecnológica a performances a instalações a debates em pouca caminhada; esse ano por ter sido espalhado em alguns centros, ficou difícil acompanhar tudo que o evento oferece – e de certa forma, encareceu muito mais para quem pagasse somente aos shows. As principais instalações ficaram por parte do Sónar+D, onde um debate dobre transformações em um conceito de “refazer”, de reconstruir conceitos mundanos com base na tecnologia, como as finanças e até mesmo hábitos diários do ser humano; e por conta do SónarCinema, que junto ao fetsival In-Edit, apresentou documentários de Frank Scheffer, cujo em suas criações estão filmes sobre alguns gênios da música, como Mahler, Frank Zappa e Varèse, todos compositores musicais que de alguma forma, em suas épocas, foram envoltos à tecnologia de instrumentos, composição e gravação.
Claro, em tudo que o evento proporciona, os shows sempre são as atrações que mais chama a atenção. O Espaço das Américas acabou sendo um excelente local - o que vem já sendo alternativas para shows de médio e grande porte de diversos seguimentos – ainda mais que as atrações foram bem resumidas perto da edição de 2012. Porém muita das atrações acabou dando um ar de “balada”, o que dispersou muito a atenção para o assunto principal, a tecnologia: o som ambiente, um tanto alto, foi um dos mais perfeitos em se tratando de qualidade, o que evidenciou muito das técnicas dos DJs que se apresentaram, com destaque ao produtor Pional que tem um pensamento muito além da tecnologia atual tornado sua apresentação interessante e detalhes sonoros e o francês Brodinski, que com uma mesa de tamanho além do normal para uma pessoa so comandar, também comandava por ele mesmo vídeo e iluminação – sua movimentação pela mesa chega a ser performática tamanha “correria” e concentração que ele tem.
As atrações todas começaram no horário certo, e a mais esperada da noite fez jus ao nome. Um dos mais antigos e pesquisadores de sons, o Chemical Brothers fez uma apresentação sem nenhuma falha sequer. So de ver o equipamento em palco que mistura o analógico com o que mais tem de moderno, Tom Rowlands e Ed Simons encantaram quem esteve presente: apesar de um estilo que faz dançar, o envolvimento entre sons introspectivos e mais acelerados são muito bem calculados e pensados, deixando muita gente concentrada e prestando atenção ao que viria nos sons, que foram tocados quase em pausas. Divulgando o mais novo trabalho Born in the Echoes, após uma intro já soltam uma das mais conhecidas músicas, Hey Boy, Hey Girl, acompanhada de uma iluminação e imagens perfeitas. E como não se hipnotizar por sons como EML Ritual, Go, Sometimes I Fell So Deserted e Acid Children? A performance em palco dos caras também não deixam nada a dever, sempre em movimento de um equipamento a outro, e ainda conseguem sair da cúpula de sintetizadores e agitar perto do público. Chemical Beats, Out of Control/ Setting Sun e Elektrobank foram as que mais agitaram – se é que possível numa apresentação que em 90 minutos não teve um momento de queda de energia – num vasto set de mais de 20 músicas. E a produção em palco impecável: laser e canhões de luz por todo lado; telão LCD em Full HD e até robôs montados de vídeos e iluminações. E a banda vai além do som... Pelo vídeo, imagens que não são meras construções de formas e cores, muito simbolismo folclórico e ritualístico fazem parte do acervo, chegando a momentos mostrar influências de cineastas experimentais como Jorodowisk. O fim fica por conta de Galvanize e Block Rockin’ Beats com um dos mais memoráveis solos de sintetizadores que já presenciei.
Sinceramente, ficou pequeno para o Hot Chip depois de uma apresentação dessa, mas os britânicos, em uma apresentação mais “orgânica” se manteve firme durante seu show, porém a energia do público pareceu esgotada e a banda se sentiu um pouco mais tímida; canções do porte de Ready For the Floor e Need You Now fizeram com que a apresentação crescesse conforme foi rumando ao seu fim.
Pelas apresentações e locais, o evento foi bem sucedido, porém teria sido melhor com mais bandas e menos DJs, diminuindo o ar de balada; e tendo preços mais justos, pois o valor da estrada e de alguns comes foram extremamente exagerados, e se comparar a edição anterior, ficou muito a dever. Esperamos o Sónar voltar a São Paulo de forma revisitada e repensada, principalmente em ter todas as atrações em um único lugar para valer o preço.
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