Titãs no Citibank Hall
Publicada em 17, Sep, 2014 por Fabiano Cruz
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Esse ano os Titãs lançaram Nheengatu, um novo trabalho não tão de inéditas assim, já que muitas faixas já foram mostradas ao público em shows anteriores. O disco me surpreendeu, foi um resgate da banda a sonoridade mais crua e pesada em excelentes faixas, mas faltava ver em como a banda soaria em palco... Claro, a turnê de comemoração de 25 anos de Homem Primata pode ter sido fator que levou a banda a largar os conceitos pops de venda de hits e canções de novelas e ver de vez que esse não é o caminho natural da banda, uma das principais da história do Rock nacional que sempre esteve um passo a frente das outras em questões de experimentalismos sonoros e líricas ácidas e complexas.
Marcado para começar as 22:00 no Citibank Hall, com pouco atraso, o palco com a capa do novo trabalho de fundo e efeitos de luzes e sons indígenas, a banda começa a apresentação mascarados conforme o vídeo de Fardados, música que abre Nheengatu e o novo show. E para minha surpresa, num som absurdamente pesado, sem nenhuma fala ao público os Titãs mandam uma sequência sem fôlego do novo trabalho com canções do porte de Cadáver Sobre Cadáver, Baião de Dois, Terra a Vista, culminando essa primeira parte com Polícia. Mesmo só mandando novos sons, já ganharam o público.
A banda como um quinteto soa mais “limpa”, mais coerente, dando mais espaços para os novos arranjos. Flores, AA UU, Bichos Escrotos ganharam roupagens mais modernas; outras potencializaram o peso e a acidez, como 32 Dentes e A Verdadeira Mary Poppins; as mais “pops” ficaram com um peso avassalador: tanto Diversão como Televisão quase não reconheci no começo. Mesmo os novos sons funcionando bem ao vivo – Mensageiro da Desgraça ficou perfeita – foram nos clássicos que a banda teve seu auge num público totalmente misturado em termos de idade, dos mais velhos que tinham sua juventude no começo dos anos 80 aos jovens de 17/ 18 anos de hoje, mostrando que a banda, mesmo em anos amargando o ostracismo por escolhas erradas, soube manter seu nome. Difícil é falar em ponto alto de uma apresentação muito consistente e equilibrada, mas a sequência de Desordem com Vossa Excelência mostrou letras atuais no momento político brasileiro e com o público mostrando sua insatisfação cantando as duas canções em plenos pulmões.
E falando dos músicos, acertaram em muita coisa, principalmente nas máscaras e, em se tratando dos novos sons, nas letras, algo que foram criticados como “copiadores” e “letras infantis de protestos”. Individualmente, a constante troca de baixo pelo Branco Mello e Sergio Britto causou um interessante efeito de timbres pelas diferentes formas de tocar de ambos – e cabe aqui que as harmonias do Britto nos teclados, muitos passados para as guitarras para dar mais peso, funcionaram perfeitamente nos novos arranjos no novo instrumento -; e a figura que roubou a cena ficou a cargo de Paulo Miklos... Sua guitarra soou afiadíssima e seu timbre de voz mais agressivo, sendo as músicas as quais cantou as que mais tiveram força diante dos fãs. Sonífera Ilha deu espaço para o primeiro bis, com Igreja e duas releituras: Canalha de Walter Franco e Aluga-se de Raul Seixas. E, mesmo mostrando cansaço, mas ainda com energias, terminaram o show com Comida, Marvin e Homem Primata.
Uma baita apresentação, onde som e produção não ficaram em nenhum ponto atrás de bandas gringas. Os Titãs realmente tiveram forças e ânimo para saírem de uma fase a qual não condizia com a história da banda e retomaram o bom Rock’ n’ Roll ácido de outrora. E que continuem assim por um longo tempo!
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