Retorno ao post-grunge: Ed Kowalczyk em São Paulo
Publicada em 04, Jul, 2011 por Marcia Janini
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No último dia 30 de junho, o HSBC Brasil recebeu Ed Kowalczyk, ex-vocalista do Live, uma das principais bandas expoentes do movimento post-grunge de final dos anos 90, em apresentação da turnê de seu primeiro álbum solo “Alive” para aproximadamente 5 mil pessoas, com início por volta das 22h00.
A iluminação baixa e densa traduz ambientação sóbria e aconchegante, explorando o jogo de luzes em suaves semi-tons, meia-luz e lusco-fusco.
Já na introdução, traduzindo a dramaticidade do sacro, a inspirada interpretação da Ave Maria de Gounod, em versão para órgão, trouxe todo o potencial vocal do intérprete à capela, apoiado por suave acompanhamento em perfeita técnica, atingindo notas altíssimas num show à parte de afinação e projeção ímpares, revelando o amadurecimento e os novos rumos do cantor.
A canção “All Over You” inicia o show trazendo linha de baixo criativa e guitarra em acordes rascantes, ascendendo ao andamento do heavy metal.
Com o diferencial dos afinadíssimos backing vocals a bateria surge na cadência do hard rock. Riffs esparsos da guitarra remetem com propriedade à sonoridades do metal melódico com inspiração no medievo, tornando a melodia densa em alguns pontos, já introduzindo um grande ponto de verticalização na noite.
Do atual trabalho “The Great Beyond” já surge com cadência e andamento diferenciados, remontando ao grunge 90`s com elementos do synthpop. Alegre, reforça a vitalidade da bateria cadenciada.
“The Distance” traduz em sua melodia densa e letra introspectiva o estilo californiano das baladas românticas, suaves, de sonoridade tranquila. Mais uma vez os backing vocals delineiam tonalidade extra aos refrões, em belos efeitos verticalizantes. A construção melódica bebe na fonte das influências do blues.
“Drink (Everlasting Love)” traduz canção inicialmente composta para o Live em 1996, apresentando mais um momento de romantismo no espetáculo. A harmonia entre baixo e bateria apoia a guitarra em acordes suspensos e levemente ralentados, em mais uma inspirada interpretação do vocal.
A sonoridade urban e suavemente affretada de “Zion”, representa o grunge tardio numa explosão da guitarra e violão de aço em grande perfeição estética, numa finalização graciosa, cativando o público em sua execução.
Single do álbum, “Grace” aponta interessante sonoridade com suaves elementos do country no andamento e punk rock na bateria cadenciada, com o peso do hardcore no refrão, em excelente canção de grande qualidade estética.
Traduzindo a fusão entre rock e vertentes do black, no fraseado vocal do hip hop, “White, Discussion” ascende com peso, seriedade e vigor no refrão… Durante as estrofes, mantém a malemolência brejeira e cheia de bossa, descontraída. Bateria constante e bem pontuada, seguida pelas guitarras em afinação padrão, fundem com perfeição à cadência do hardcore.
Na segunda parte da apresentação, a introdução mesclou na percussão elementos andinos às sonoridades afro, nos pandeiros e atabaques, em grande performance individual dos percussionistas convidados Vinny & Amoy, sob a base de teclados em suspensão. Vocalizes remetem à sonoridade beduína do médio oriente, em momento new age do espetáculo.
Além das canções de trabalho do álbum Alive, Kowalczyk interpretou em inspiradas e fideginas versões os maiores sucessos do Live, como “Selling the Drama”, “The Dolphin’s Cry”, “Heaven”, “Lalone”, “Pain Lies”, “Overcome”, “Lakini’s Juice”, “The Beauty of Grey” e “Dance With You”, em momentos de intense sinergia e comunicação com o público, em uma apresentação marcada pela técnica e carisma de uma das mais belas vozes do rock na atualidade.
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