Entrevista com Sergio Britto
Publicada em 16, May, 2007 por Marcia Janini
Na última sexta-feira, dia 11 de maio, antes de subir aos palcos do Sesc Santana, para apresentação da turnê de lançamento de seu segundo CD, o cantor e compositor Sérgio Britto recebeu-nos gentilmente nos camarins, concedendo-nos esta entrevista, onde discorre sobre sua carreira solo e sobre os rumos da música brasileira na atualidade.
<b>Musicão:</b> Neste segundo trabalho solo, o CD “Eu sou 300”, como você analisa as diferenças entre este álbum e o anterior?
<b>Sérgio:</b> Eu pensei melhor, refleti com mais calma sobre o que queria fazer. Na escolha do repertório, eu procurei mesclar a brasilidade ao pop rock. Utilizei-me assim de vários elementos, de várias sonoridades, criando um vocabulário próprio. Diria que foi um passo mais coerente, mais bem dado.
<b>Musicão:</b> Isso demonstra um grande trabalho de pesquisa, analisando-se os vários matizes da música brasileira... Como se dá o processo de composição das canções?
<b>Sérgio:</b> Não vejo como pesquisa... Na verdade, são dados meus adquiridos ao longo da vida, de coisas que ouvi. Os roqueiros sempre tinham preconceito quanto a ouvir a música brasileira e ainda mais em utilizar dela elementos para seu trabalho, preconceito que nunca tive, sempre ouvi de tudo. O processo de composição parte sempre da idéia de uma letra, um trecho musical, de uma canção com determinado ritmo. Assim se torna um processo prazeroso, que não entedia, como se fosse um hobby. Enquanto há músicos que preferem ser intérpretes, eu sempre fui mais ligado à composição.
<b>Musicão:</b> Fale um pouco sobre o segundo CD.
<b>Sérgio:</b> Levei seis anos para fazer o segundo CD, foi um longo intervalo se comparado ao trabalho anterior, entretanto, gostaria de ter dado uma seqüência maior, conciliando com meu trabalho com os Titãs, mas foi bom, assim pude desenvolver com mais cuidado um vocabulário próprio.
<b>Musicão:</b> Quanto à questão de uma maior identidade musical neste novo trabalho... Fale um pouco sobre isso.
<b>Sérgio:</b> Todas as minhas composições sempre tiveram um parentesco com coisas que faço sozinho. Tem sempre um swing a mais, juntando vários elementos. Mas antigamente não era tão comum a mistura de rock com MPB e eletrônico, no meu trabalho com os Titãs, isso só ficou bem claro no álbum “Q Blesq Blom”.
<b>Musicão:</b> Como você vê os rumos da música brasileira na atualidade?
<b>Sérgio:</b> O bom é a diversidade, as pessoas estão menos preconceituosas. A música brasileira é muito rica, há material em fartura. Tem pra todo mundo, todos os gostos e estilos, só o que falta é a quebra da pirataria...
<b>Musicão:</b> Aproveitando o gancho... O que você acha da pirataria?
<b>Sérgio:</b> É ruim, mas hoje não se tem muito que fazer, ela deveria ter sido inibida no início... Há uma onda na Internet muito legal, onde você pode adquirir música pagando um preço justo pelo download, só que este hábito ainda não foi assimilado pelos brasileiros.
<b>Musicão:</b> Analisando seu trabalho solo, percebe-se que as canções são mais densas, introspectivas, você deixou um pouco de lado a questão tão marcadamente crítica...
<b>Sérgio:</b> Tudo é expressão da individualidade. Num discurso ácido, as coisas podem funcionar bem, o que não significa que na fusão entre ácido e suave isso não ocorra... As duas coisas podem andar juntas e, como todos, eu tenho meus dois lados, o crítico e o mais reflexivo e a junção entre estes é o que determina o meu estilo de compôr.
<b>Musicão:</b> O que você gostaria de dizer ao seu público?
<b>Sérgio:</b> O que falta aos ouvintes de música, no meu ver, é prestar atenção ao que escutam. As pessoas reclamam que não surgem novidades, que tudo continua igual, entretanto, quando surgem trabalhos diferenciados as pessoas não pesquisam, não procuram conhecer... Acredito que falta a curiosidade.
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