Todas as Vozes de Edson Cordeiro em São Paulo
Publicada em 24, Jan, 2017 por Marcia Janini
Na noite do dia 22 de janeiro, com início às 22h00, o cantor Edson Cordeiro exibiu o show de divulgação de seu novo trabalho "Paradiesvogel" no Teatro J. Safra, em única apresentação.
A ambientação intimista e o clima acolhedor proporcionados pela iluminação privilegiada, digna de menção, auxiliou positivamente o performático intérprete, que literalmente brilhou por meio de seu timbre vocal diferenciado.
Iniciando a apresentação ao som da introdução de "Habanera" da ópera Carmem (G. Bizet) acompanhado pelo bem pontuado piano de Antônio Vaz Lemes, Edson recita poema do nordestino João Cabral de Melo Neto, emendando na sequência a bela performance de trecho do bolero "Besame Mucho" em modulação tenor à explosão da interpretação da "Habanera" em falsete perfeito, remetendo aos voz castratis. Portentoso!!!
A tradicional rumba cubana "Babalú" (Margarita Lecuona), também conhecida pelas gravações anteriores de Ângela Maria e Célia Cruz é executada com maestria, tendo o acompanhamento de vocalizes percussivos realizados com garbo e elegância pelo próprio Edson, em meio ao seu vocal límpido, cristalino e impactante em um extasiante momento do show.
"Cucurrucucú Paloma" (Tomás Méndez Sosa) traz a dramaticidade e a paixão das tradicionais cançonetas mexicanas e seus mariachis em um momento suave, lindo, onde o cantor modula com graça e delicadeza cada frase sonora, realizando desenhos de grande beleza estética.
Para a inspirada execução de "Frozen" (Madonna) a pronúncia impecável e as modulações precisas de Edson, com vocalizes de grande efeito na finalização demonstram mais uma vez sua grande técnica....
Constando do novo álbum "Love Song" (The Cure), surge revisitada no soul standard de Billie Holiday, transparente, clean e deliciosa de ouvir... Ousada e genial nos novos arranjos... Great!!!
Interpretando Edith Piaf, em toda a languidez e apelo dramático para "Mon Dieu" o versátil intérprete modula sua entonação de tenor ascendendo em instantes para barítono, com grande propriedade.... Com toda a segurança e eloquência de sua potente voz, o astro brilha em inspirada performance, finalizando com um vocalize incrivelmente alto, límpido e perfeito em mais um momento belíssimo da apresentação...
Edson sai e deixa a plateia aos cuidados do pianista Ântonio Vaz que executa excerto do coral "O Canto do Sertão", integrante das "Bachianas Brasileiras" (Heitor Villa-Lobos) ao piano, para deleite do público em instante intimista e lindo do show...
Retornando das coxias após breve troca de figurinos, Edson entra entoando o clássico do cancioneiro popular "Assum Preto" (Luiz Gonzaga) com grande beleza, trazendo no fraseado vocal o acento do sotaque nordestino, conferindo grande carga dramática a este ponto do espetáculo.... Amazing!!!
Após momentos de entretenimento, o cantor interpreta a canção rancheira "Saudade da Minha Terra" (Gérson Coutinho da Silva "Goiá"), em meio ao clima de doces recordações e elegante descontração...
Na sequência, fados com Wallace Oliveira na guitarra portuguesa e no violão Sérgio Borges, que acompanham Edson na canção "Estranha Forma de Vida" (Amália Rodrigues/ Alfredo Marceneiro).
Após mais uma troca rápida de figurino, o cantor retorna com "Lisboa À Noite" (na versão de Tony de Matos para a tradicional canção popular em domínio público) um fado faceiro, de andamento rápido.... Mais um momento belo da apresentação...
O samba "Disseram que Voltei Amaricanizada" (Luís Peixoto/Vicente Paiva) surge apresentando Carmem Miranda em meio aos repiques da guitarra em versão de... fado!!! Divertidíssimo, criativo e ousado!!!
Mais uma releitura cuidadosamente realizada para o álbum atual "Coração Vagabundo" (Caetano Veloso), em um perfeito tom de falsete suave, apropriado, ganha também ares lusitanos.
Em mais um instante intimista da apresentação, o cantor entoa os primeiros versos de "Barco Negro" (Antônio Amábile "Piratini"/ Matheus Nunes "Caco Velho") finalizando com solfejos repletos de perfeição, leveza e beleza...
Aproximando-se do fim do espetáculo, os presentes foram brindados com descontraídas e bem humoradas versões de canções conhecidas como o divertido "minueto" para a eletrônica "Barbie Girl" (Aqua), dividindo os vocais com Antônio Vaz numa sadia brincadeira que aliou o erudito ao popular...
Com o apoio do público por contra-tenores, a ária "Rainha da Noite" da ópera a "Flauta Mágica" (Mozart) surge em consagrado e aguardado ponto da apresentação, seguido por "Fado Tropical" (Chico Buarque), encerrando uma apresentação em tudo bem cuidada e perfeita, totalizando um grande espetáculo.
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