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Sem Filtro e Sem Pudor: Lobão

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Publicada em 16, Jul, 2015 por Marcia Janini


Na noite do último sábado 11 de julho, às 21h00, Lobão apresenta mais um show da turnê "Sem Filtro" no Teatro Bradesco em São Paulo.

Adotando aconchegante aura intimista, o espetáculo apenas com voz e violão, segue características clean, sem aparatos cênicos e complicados esquemas de iluminação. Sobre o palco, apenas uma cadeira, o microfone e os variados modelos de violão sobre um tapete simples. Mais acolhedor impossível.

O cantor, com seu costumeiro carisma e irreverência, convida os presentes à reflexão sobre o processo de homogeneização da população e da esperança em face do delicado momento político nacional com as canções "Os Vulneráveis" a "A Esperança É a Praia de um Outro"que constam do novo álbum de trabalho "O Rigor e a Misericórdia".

Canção do final dos anos 80 "Toda Nossa Vontade" e singela homenagem a Cazuza e Júlio Barroso (Gang 90) com "Das Tripas Coração", antecedem o clássico "Chorando Pelo Campo".

Uma enfurecida balada trazendo em sua introdução uma bem humorada influência da 5a. Sinfonia de Beethoven "A Vida É Doce" surge visceral, intensa, resgatando toda a aura de ousada atitude rock n' roll do artista. Perfeita!

Entre as canções o cantor descontraído e bem humorado bate papo com a platéia, e com grande graça e licença poética toca e canta muito à vontade, se permite afinar o violão e reiniciar a canção interrompida com grande desenvoltura e sem qualquer traço de embaraço.

"Vou Te Levar" e "Som Fantasmagórico à Distância", "El Desdichado" e "Tranquila" realizam um bloco sequencial de canções críticas, reflexivas e ao mesmo tempo bem humoradas, mantendo a atmosfera de diversão.

Entre as canções, em tom de intimidade total com seu público, o compositor discorre sobre o processo de criação de cada uma de suas composições, que mesclam as mais variadas influências musicais nas criativas melodias para suas letras ácidas e satíricas. Dessa forma, além do rock, blues e suas variantes, desde o clássico barroco de Beethoven até o chorinho, a bossa-nova, os cantes aflamengados como as tonás e seguidillas (El Desdichado II), e vertentes orientais como as citaras indianas e solos de derbak árabes, tudo funde-se num grande caldeirão repleto de criatividade e ousadia.

"Noite e Dia" e "Me Chama" clássicos inicialmente conhecidos pelas gravações de Marina Lima, surgem como pontos altos da apresentação, com intensa participação do público.

"A Marcha dos Infames", insólita mistura entre 7a. sinfonia de Beethoven na melodia e entonação vocal a la Inri Cristo, lança ácidos petardos sobre a crise política no país, com letra bem construída e melodia ousada, criativa, explorando arranjos e métricas diferenciadas num bom momento do show.

"Por Tudo Que For" e "Alguma Coisa Qualquer" traduz a melancolia e urgência apaixonada do blues, bem temperado.

Como um ser altamente musical, e fugindo aos ditames do mainstream e a qualquer padrão que não os de sua própria irreverência, tudo serve de mote e inspiração para suas irreverentes e inusitadas composições. Assim, "Um Ilha na Lua", canção homenageando os gatos (uma outra paixão do compositor) traduz momento inteligentemente pueril e bem sacado do show, com melodia fluida e letra suave.

"Essa Noite Não", "Mal Nenhum" (parceria com Cazuza), "Vida Louca Vida" e "Rádio Blá", encerram o primeiro bloco da apresentação, que mesclou variados momentos de sua prolífica carreira. Em uma apresentação memorável e deliciosa!!!!

Para o momento do bis, Lobão retorna com releitura para "Help" (The Beatles). Numa versão sambalanço, parafraseando Jorge Ben, surge "Vida Bandida" trazendo o melhor da malandra malemolência do swing carioca para em seguida "Corações Psicodélicos", encerrar o show.


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