RPM, Biquíni Cavadão e Titãs: Suprasumo do Rock Nacional
Publicada em 29, Apr, 2014 por Marcia Janini
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No último dia 26 de abril, três das bandas ícones do rock nacional 80 reuniram-se em única apresentação na badalada casa de shows Citibank Hall, localizada na zona sul da capital paulista.
Subindo ao palco por volta das 21h00, o RPM inicia sua apresentação já com grande intensidade na execução de dois dos maiores hits da carreira: "Rádio Pirata", seguido de "Loiras Geladas" convidam o público à descontração e ao agito.
Com aparato cênico simples e esquema de iluminação privilegiado, remontando às antigas danceterias dos anos 80, Paulo Ricardo esbanja carisma e simpatia na execução dos clássicos que ditaram intensas mudanças no comportamento e ideário da juventude de então, em versões fidedignas às gravações originais.
Após a execução de "Rainha", "Vida Real" surge na fusão entre o rock e a modernidade do eletro, dançante e repleta de variações dinâmicas, apresenta belo momento dos teclados de Luiz Schiavon e excelente trabalho dos técnicos de som, explorando com equalização diferenciada os recursos de sintetizador.
A dançante "Electra", apresenta na introdução esparsos elementos que remetem à sonoridade árabe/ mediterrânea. No andamento cadenciado, surgem os recursos suavizadores para esta melodia contemporânea, atual, moderna, sem abrir mão da charmosa característica retrô.
"Juvenília", a suave e introspectiva balada surge em versão fidedigna em mais uma mostra da excelência do teclado, aliada à interpretação inspirada de Paulo Ricardo, imprimindo sensualidade ímpar à letra, com seu timbre diferenciado e singular. Nota para a finalização, repleta de breks estratégicos, bem determinados pela excelwnte condução da bateria.
Após o belíssimo solo de guitarra de Fernando Deluqui, a clássica releitura para o sucesso "Flores Astrais" de Secos e Molhados, tendo "No Woman No Cry" como música incidental na finalização com preciosos arranjos da guitarra aliados à firme condução da bateria cadenciada, explorando tonalidades densas, em dub.
"Revoluções Por Minuto", traduz toda a arrojada aura de liberdade e ousadia na fidedigna versão, causando forte impacto no público, seguida por outro grande hit "Alvorada Voraz" e pela intensa "Olhar 43", em momentos de intensa comunicação palco/plateia.
Iniciando sua apresentação por volta das 23h00, Biquíni Cavadão executa o hit "Tédio", causando furor no público. Nota para o sax em criativas interações com o teclado, realizando interessante contraponto, traduzindo um pouco de suavidade.
A atual canção de trabalho "É Dia de Comemorar" surge explorando a sonoridade dub do jazz fusion, com elementos esparsos do ska e surf rock. Cheia de energia.
A deliciosa "No Mundo da Lua" apresenta grandes variações dinâmicas, trazendo à cadência jazzística do doo wop elementos modernizadores pautados no pop rock, numa das composições mais ricas do espetáculo. Nota para a perfeição do sax tenor... Num interessante encadeamento surge a intensa releitura para "Inútil", sucesso de Ultraje a Rigor.
Suavizando um pouco a efusiva apresentação, surge a releitura para a balada "Astronauta de Mármore" tradução para "Starman", clássico de David Bowie realizada pala banda gaúcha Nenhum de Nós no final dos anos 80, em um belíssimo momento do show.
"Carta aos Missionários" da banda carioca Uns e Outros surge em versão fidedigna à original, bem pontuada pelo bem conduzido teclado nas conversões ao refrão.
A canção "Amanhã é Outro Dia", repleta de crítica social, traduz todo o dinamismo e indignação em relação aos rumos da atual política brasileira. A bem construída letra aliada ao hard rock de linhas simples e contundentes da melodia fazem deste um dos grandes hits do atual trabalho da banda.
A ensolarada "Dani", com cadência contagiante do ska/reggae surge descontraindo a apresentação de forma decisiva, contando com "Uma Brasileira" dos Paralamas do Sucesso como música incidental, num medley inspirado na descontração.
Em versão fidedigna "Impossível" marca também um dos grandes momentos do show, com intensa participação do público.
Trazendo novos arranjos "Múmias" surge modernizada pelos acordes do teclado e sintetizadores em notas suspensas, determinando maior densidade à canção. Trecho executado no fraseado vocal do hip hop também surge como diferencial, trazendo a vitalidade do street para a suavizada versão.
A perfeita "Vento Ventania" traduz toda a ensolarada energia do reggae em mais um brilhante momento do show, num feliz convite à descontração. O baixo em dub, em perfeito e simples acompanhamento surge auxiliando a bateria na determinação do andamento malemolente e cheio de bossa. Nota para a perfeita finalização, em breaks estratégicos, apoiando o mote do refrão. Fantástico!
"Roda Gigante", canção de trabalho que intitula o novo álbum, explora na introdução elementos da moderna MPB e esparsos acentos eletrônicos do minimal, à suavidade da balada pop rock, numa intrincada composição, repleta de cromatismos e variações dinâmicas harmoniosas.
Os Titãs realizam sua entrada por volta das 0h45min do domingo com "Lugar Nenhum", já traduzindo o peso, atitude e irreverência rock n' roll já na primeira canção executada. Seguindo a temática crítica, a execução de sua perfeita releitura para "Aluga-se" sucesso de Raul Seixas acompanhada pela enfurecida "AA UU", relembrando um dos maiores sucessos do início da carreira, pautando-se no andamento frenético e curta duração, rapidez e contundência herdada do punk rock. Grande momento da apresentação.
"Diversão" traduz em seu bojo o andamento constante e as guitarras distorcidas do heavy metal, seguida da intensa e emblemática "Flores", grande clássico de letra marcante e riffs perfeitos das guitarras, aliada à condução da bateria inovadora e nada óbvia, que ainda hoje influencia gerações de novas bandas... Atemporais!
Dividindo o palco com Bruno Gouveia do Biquíni Cavadão, a execução do primeiro grande sucesso "Sonífera Ilha", em versão fidedigna que explora elementos do ska na junção ao surf rock, causa grande furor no público. Descontração em alta!
Mantendo o debochado e ácido tom crítico que permeia a apresentação "Comida", em sua fantástica e coerente estrutura de movimentos cíclicos, surge como mais um ponto alto da apresentação, com a inspirada interpretação de Paulo Miklos, seguida pela igualmente reflexiva "Desordem", hino da revolta às grassantes diferenças sociais, canção extremamente contextualizada em nossos dias.
A rascante e revoltada "Vossa Excelência", na cadência constante do hard rock, surge fidedigna em sua contundência.
"Fardado" canção do novo trabalho, traduz toda a atitude de crítica, reflexão e descontentamento, representando mais um álbum repleto de canções de protesto, marcando o retorno às origens da banda, após o namoro com o eletrônico, a MPB e as rock ballads exploradas a partir da segunda metade dos anos 90.
Outra grande canção da nova safra, que explora em sua melodia elementos do cancioneiro regional nordestino na estrutura de rondó e nos esparsos elementos que remetem ao xote, "Mensageiro da Desgraça" surge densa, reflexiva, com fraseado vocal ralentado, em uma composição simples e direta em sua forma. Perfeita!
"Terra à Vista", traz elementos do ska e surf rock na junção com a força do hard rock. Elementos do punk rock surgem também na condução criativa e inusitada da bateria em uma excelente e bem elaborada composição.
A audaciosa "Cabeça Dinossauro", surge com um belíssimo diferencial, um solo de bateria de tirar o fôlego, numa verdadeira aula de condução instrumental na finalização.
Suavizando um pouco o clima da apresentação, "Epitáfio" surge em fidedigna versão, seguida pelo reggae contagiante da maravilhosamente contraditória "Marvin", alegre em sua efusiva melodia e extremamente séria e crítica na bem construída e densa letra, em mais um momento importante da brilhante apresentação.
Outros importantes momentos ficaram por conta das execuções de "Televisão" e "Homem Primata", incendiando o público, que participou prontamente, com grande empolgação.
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