Lobão - Acústico MTV
Dia: 25/05/2007 (Sexta-feira) - Às: 22:00
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Acústico MTV
Na contramão da contradição
Se Lobão fosse um sujeito fácil de ser comprado, compreendido, perdoado até, talvez tivesse nascido com o dom de cantar... boleros. Mas o cara que surgiu no cenário nacional com o Vímana, nos anos 70, que deu um passo à frente como sócio-fundador da Blitz nos 80, que se consolidou como ídolo popular na carreira solo (aqui incluída a parceria com Os Ronaldos), que vivenciou a decadência sem elegância do pop rock nacional dos 90, que às vésperas dos anos 00 se insurgiu contra a indústria e abriu seu bocão pra reclamar, e que agora deu uma trégua porque recebeu um tratamento que julga digno de seu merecimento (e sempre foi a dignidade artística o mote de sua cantilena contra as gravadoras) é encrenqueiro, polêmico e falastrão porque é exatamente isso que se espera do que ele se propõe a fazer: rock, esse estilo em que incomodar é mérito e ser bonzinho demais cheira a picaretagem.
Não é à toa que, à beira dos 50 anos (que vai completar em outubro), o Lobão deste Acústico MTV, projeto notadamente avesso aos ruídos, continua provocando tamanho barulho. É evidente que a aura do artista que se rendeu novamente ao sistema é parte intrínseca do processo analítico da obra, a causadora natural da controvérsia prévia, mas quando a música entra em cena traz com ela todas as respostas (e justificativas) necessárias.
Luzes acesas, músicos a postos, tudo o que parecia vício ganha ares de virtude. No palco, no centro das discussões artísticas como deve ser, Lobão é pura urgência e tensão, é a contramão da contradição, é um poeta que se exercita praticando a arte da sutileza das palavras duras e da dureza das palavras sutis: eu sou a explosão, o exu, o anjo, o rei / o samba-sem-canção / o soberano / de toda a alegria que exista, destila na apocalítica El Desdichado II, tema de abertura do show que tem um bocado de clássicos no set mas não se resume às confirmadas. A fase independente de Lobão (composta por três álbuns de estúdio) rendeu grandes momentos que, finalmente, estão vindo à tona. E até a fase adolescente está representada, com a gravação de O Mistério, do Vímana (composta por Lobão, Lulu Santos e Ritchie, emoldurada pela beleza do som de um órgão hammond e do quinteto de cordas convidado para o disco).
As molduras são um ingrediente básico do cenário dadaísta que Zé Carratu preparou para o show registrado em dezembro do ano passado no Novos Estúdios (São Paulo). Já Lobão, esse definitivamente não se enquadra em padrões estéticos banais. Por isso, nada mais certo que ter como o produtor dessa empreitada Carlos Eduardo Miranda, que emprestou sua crença no alt rock, no new folk, no velho rock do Faces e na face vanguardista de Matthew Herbert para embalar as versões acústicas.
O casamento deu tão certo quanto a escolha dos músicos que formam a banda de apoio: Edu Bologna e Luce nos violões, Daniel no baixo, Roberto Pollo nos teclados, Pedro Garcia na bateria e Stephane San Juan, na percussão. Muito concentrados, eles concederam a Lobão o que ele mais precisava para encarar o desafio e a responsabilidade de voltar à indústria que tanto detonou com um trabalho digno de seu talento: segurança. Depois de ralar ensaiando, a banda conquistou um espírito de jam session evidente. A resposta ao bom clima propiciado pelos músicos está evidenciada no vocal de Lobão, que soltou a voz como nunca e coube como poucos no formato acústico.
Apesar de acústico, Lobão entra em cena enfiando o pé na porta, sem cerimônias, com El Desdichado II, Essa Noite Não, Décadence Avec Élegance e a deliciosa e nostálgica Bambino (do tempo dos Ronaldos, em magnífica interpretação). A partir da quinta faixa, Revanche, o clima intimista invade o salão, na romântica Vou te Levar e na grandiloqüente Quente, ambas com o apoio de um quinteto de cordas que criou uma tensão espetacular e uma atmosfera transcendental no ambiente e que, de leve, remetem ao maravilhoso som de Unledded, de Jimmy Page e Robert Plant.
Depois de respirar um ar mais erudito, vem o momento de inspiração alt country com Por Tudo que For e Chorando no Campo (com direito a show de precisão no banjo de Edu Bologna), a circense Que Língua Falo Eu (de O Inferno é Fogo, de 2001), os eternos clássicos Noite e Dia e Me Chama, o hit em potencial Você e a Noite Escura (uma pérola do álbum de 2005 Canções Dentro da Noite Escura, com um ar psicodélico); novamente com o reforço do quinteto, A Queda (na qual se destaca a qualidade da percussão discreta de San Juan), A Vida é Doce (com um arranjo lindo), Pra Onde Você Vai e O Mistério compõem o ciclo mais contemplativo e viajandão do disco.
O grand finale convida para a dança de saloon, com deliciosas versões para Rádio Blá e Corações Psicodélicos e uma canção arrebatadora de amor interpretada ao lado de três integrantes da banda convidada Cachorro Grande. Roqueiros de carteirinha fazendo baladas? É a cara de Lobão, na contramão da contradição (a Cachorro Grande, aliás, é uma das estrelas das cenas extras do mais novo DVD acústico da MTV, que inclui ensaios, o processo criativo e detalhes técnicos de cenário e iluminação, além de erros na gravação e o falante Lobão explicando detalhes da obra integram os extras e o making of).
Lobão pode não ser um cara fácil, mas difícil mesmo é pensar em rock brasileiro sem Lobão.
Via Funchal
Rua Funchal, 65
Vila Olímpia, São Paulo, SP
www.viafunchal.com.br
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